3 de dezembro de 2015

03 DE DEZEMBRO - DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIENCIA - ENTREVISTA MIRELLA PROSDOCIMO

ESTUDIO SOSSELLA ENTREVISTA MIRELLA PROSDOCIMO
HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
CONTE A SUA HISTÓRIA COM RELAÇÃO AO ACIDENTE DE CARRO, QUE RESULTOU EM SUA TETRAPLEGIA
Foi em 1992, quando estava voltando da praia após uma longa temporada de férias. Estava no banco do passageiro, quando um motorista que estava dirigindo alcoolizado bateu na traseira do nosso carro e com isso caímos de cima de um viaduto de uma altura de aproximadamente 20 m. Com o choque,  nosso carro capotou e eu fraturei a minha coluna na altura do pescoço. Tive uma lesão medular bem alta e, portanto, perdi todos os movimentos do pescoço para baixo.
Na época tinha apenas 17 anos e não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. Demorei bastante tempo para aceitar esta nova realidade e retomar a minha vida, pois imaginava que esta era uma situação apenas temporária, que em breve voltaria com os movimentos pelo menos dos braços.
Depois de quase 10 anos que tive coragem de voltar a estudar e seguir com a minha vida. Fiz vestibular para Letras na Universidade Tuiuti, mesmo sem acreditar muito que conseguiria seguir com os estudos, mas fui muito bem recebida pelos colegas e professores e isso me deu ânimo para seguir em frente.
Ao longo do curso participei também de um intercâmbio nos Estados Unidos, para estudar sobre inclusão e tecnologia assistiva e, a partir daí a mudança foi total. Percebi que mesmo sem os movimentos poderia seguir com a minha vida e me sentir realizada. Hoje já estou tão acostumada com essa situação de depender de outras pessoas para me auxiliarem no cotidiano, desde tomar banho, me vestir, comer ou mesmo coçar o rosto, que nem me lembro que eu não tenho movimentos na correria do dia a dia. Simplesmente vivo e faço tudo que preciso e gosto de fazer, agora apenas com um diferencial: preciso do apoio de outras pessoas.
Ainda bem que o ser humano tem uma capacidade incrível de se adaptar a novas situações e eu me adaptei a minha nova condição de depender de outras pessoas, mas acima de tudo compreender que posso ter uma vida plena e completa desta maneira!
Hoje além de ter um trabalho que me realiza, moro sozinha , tenho meu namorado que me faz feliz e inúmeros amigos, sem falar do apoio da minha família que foi fundamental para conseguir superar tantos desafios.
Hoje atuo na Secretaria Especial dos direitos da Pessoa com deficiência da Prefeitura de Curitiba e com isso tenho a oportunidade de conhecer outras realidades de pessoas com deficiência, compreender suas necessidades e fazer o meu melhor para transformar a cidade em um ambiente mais acessível e inclusivo. Fica muito mais fácil quando temos um poder público sensível a causa que é o que ocorre hoje, tanto com o próprio prefeito Gustavo Fruet como com os outros secretários, que já compreenderam que a inclusão é necessária e que precisamos avançar a cada dia, sempre pensando que na formulação das políticas públicas a pessoa com deficiência precisa estar incluída. Hoje trabalhamos para que não tenhamos espaços segregados, por exemplo, uma atividade de esporte apenas para as pessoas com deficiência. Este público precisa estar incluído nas inúmeras atividades oferecidas, levando em consideração suas características e necessidades.

QUAL É O SEU TRABALHO NA PREFEITURA DE CURITIBA
Como já citado, procuramos desenvolver políticas públicas inclusivas em parceria com os demais órgãos da Prefeitura.
Também, atendemos o público, sobretudo as famílias e as pessoas com deficiência, para garantir os seus direitos, por meio de orientação jurídica, sobre acessibilidade, empregabilidade e os serviços oferecidos na cidade.
Além disso, gerenciamos um serviço de transporte porta a porta – ACESSO – para pessoas com deficiência que não conseguem utilizar o transporte comum, e uma Central de Libras para facilitar a comunicação da comunidade surda.
Por fim, organizamos eventos, campanhas, seminários para difunidr temas pertinentes à inclusão e reuniões com a comunidade para divulgar nosso trabalho e promover o protagonismo.

COMENTE COMO É SER DEFICIENTE FISICO
Ser uma pessoa com uma deficiência física é enfrentar diariamente inumeras barreiras, pois as cidades ainda não estão preparadas para acolher pessoas que utilizam uma cadeira de rodas para se locomoverem. Isso faz com que não consiga ter acesso a alguns locais, seja por um desconhecimento, ma vontade ou mesmo falta de recursos financeiros para viabilizar adaptações. Mesmo assim não deixo de fazer nada do que eu gosto, apenas priorizo aqueles locais que estão preparados para me receber. Fora a questão de acessibilidade arquitetônica, também enfrentamos o preconceito em relação a nossa capacidade, pois ainda somos vistos como improdutivos e incapazes na maior parte das vezes.  São essas as principais barreiras que precisamos enfrentar e lutar para mudar essa visão ultrapassada, mas ainda tão presente nos dias de hoje.

PERDAS E GANHOS COM A SUA DEFICIENCIA FISICA
Perdas, sem dúvida diria que é a independência, poder fazer as coisas por mim mesma sem necessitar deste apoio 24h do dia. Mas isto já é algo que se tornou natural para mim, aprendi a lidar com essa situação e me adaptar, portanto isso já não gera mais um sofrimento para mim, pois entendo que todo mundo enfrenta inúmeras dificuldades ao longo da vida. Algumas vezes a pessoa pode não ter nenhuma limitação física, mas estar limitada mentalmente e não conseguir sair do lugar. Eu apenas aprendi a lidar com a minha situação e ao invés de pensar " oh como sou triste, minha vida acabou ", olho pelo lado positivo, estou aqui e tenho inúmeras possibilidades de auxiliar tantas pessoas que como eu, convivem com uma deficiência, mas não tem a mesma condição , nem psicológica, nem financeira ou de estrutura arquitetônica mesmo.

IDEIA E, OU MENSAGEM PARA UM POSSIVEL MUNDO MELHOR
Hoje, falamos cada vez mais de protagonismo, de valorização das diferenças e de igualdade de oportunidades e condições para todas as pessoas com deficiência.
Porém, sabemos que ainda temos muito o que conquistar, a caminhada é difícil. Infelizmente, o preconceito, o assistencialismo e a pobreza ainda fazem parte do nosso dia a dia e impedem que milhares de pessoas com deficiência exerçam a sua cidadania, com a qualidade de vida que merecem e têm direito.
Por isso estamos aqui, para acima de tudo mostrar para a sociedade que somos cidadãos, com direitos e deveres, como qualquer outra pessoa, e que precisamos derrubar as barreiras físicas e atitudinais a cada dia para construir uma cidade mais humana, uma Curitiba que possa garantir a todos os seus moradores, com e sem deficiência, uma vida digna e feliz.
Assim, deixo esse recado para todos. Cada um pode e deve colaborar para essa construção. O poder público é o principal responsável, mas todos na verdade são responsáveis – empresas, instituições, famílias, pessoas com e sem deficiência. Todos devem fazer a sua parte.